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As características que hoje são observáveis no Cão de Gado Transmontano parecem ter sido ditadas pela sua capacidade de evitar a ocorrência de ataques de lobo aos rebanhos no tipo de pastoreio de ovinos e caprinos que existe no Nordeste de Trás-os-Montes, mas também pela sua adaptação à sociedade agro-pecuária em que se insere.
 
O rebanho é a casa do Cão de gado Transmontano. Contrariamente a outras raças, este cão não tem propriamente um território a defender, mas sim um rebanho a defender. Este rebanho tem várias e inúmeras pastagens, que variam ao longo do dia e ao longo do ano e também tem vários lugares de pernoita ou de descanso durante o dia e, como tal, não está fixo a um determinado território, o que se reflecte bastante no comportamento do cão. Colocado fora do seu rebanho, o cão perde um pouco a sua nobreza, o seu carácter imponente, e, sobretudo, a sua agressividade. Pelo contrário, se o rebanho for colocado num local estranho com o cão, este continua a fazer o seu trabalho. É uma prática muito comum o rebanho ser vendido com os respectivos cães de gado e estes, apesar de irem para um novo dono e um novo lugar, continuam a desempenhar o seu “ofício” na perfeição.
 
A relação do cão com o pastor também é algo diferente da relação que normalmente se atribui a dono e cão. A maior parte dos pastores raramente tocam nos seus cães, quase nunca os prendem à trela e, em muitos casos, têm mesmo grande dificuldade em os agarrar, quer seja para os vacinar, para os tratar de alguma doença, ou para qualquer outro fim. O seu afecto, quando existe, é transmitido aos cães por poucas palavras e na partilha de alguma côdea de pão aquando da merenda. Muitas das vezes, é a mulher do pastor, que distribui a comida aos cães, que consegue agarrá-los quando é necessário. Noutros casos, são as crianças, filhos do pastor, que conseguem obter a maior confiança dos cães, fazendo deles tudo o que querem.
 
 
Com as ovelhas, o Cão de Gado Transmontano tem atitudes muito diferentes, dependendo, essencialmente, da boa ou má experiência que com estas teve durante o seu crescimento. Se teve a pouca sorte de crescer junto de ovelhas com cordeiros recém-nascidos, certamente terá levado algumas fortes marradas que o fazem temer a sua proximidade, ou pelo menos temer algumas delas, uma vez que os cães distinguem perfeitamente cada ovelha do rebanho. Embora seja raro, alguns cachorros podem mesmo chegar a ser mortos pelas marradas das ovelhas. Outros, que crescem numa época do ano em que não há cordeiros recém-nascidos, tentam brincar com as ovelhas ou com os cordeiros e não os temem. Podem até ser demasiado violentos nas suas brincadeiras com os cordeiros e, inadvertidamente, chegar a matá-los. O pastor experiente intervém sempre com o fim de evitar que isto chegue a ocorrer ou, caso o cachorro mate um cordeiro na brincadeira, prontamente o castiga por forma a evitar que novamente o incidente suceda. Os cães adultos têm, normalmente, uma ligação afectiva às ovelhas e ao rebanho. É frequente vê-los a lamber ou a catar as ovelhas, ou, quando o pastor os tenta agarrar, refugiam-se no meio do rebanho. Um cão adulto que cresceu sem incidentes de morte de cordeiros tem uma reacção a estes muito semelhante àquela que tem com cachorros estranhos. Por exemplo, é possível ver cordeiros, com alguns dias de idade, perdidos no rebanho, sem encontrar a mãe, que tentam seguir, ou mesmo mamar num Cão de Gado e este último, com um ar meio atrapalhado, desviando-se, sem saber o que fazer.
 
Em relação aos animais selvagens que o Cão de Gado Transmontano encontra, a reacção é quase sempre a perseguição e a tentativa de capturar o animal. Sejam lobos, raposas, javalis, corços, veados, lagartos, cobras, coelhos ou lebres, a reacção é sempre agressiva, terminado com a fuga do animal ou com a sua captura e morte. Quase todos os cães de gado na região já capturaram algum destes animais. Por vezes, quando o animal perseguido é um lobo ou um javali, o final pode ser diferente. É frequente haver cães com feridas provocadas por dentadas e navalhadas de javali, chegando alguns a morrer. Os que sobrevivem aprendem a resguardar-se das dentadas ou, quando os perseguem, evitam o confronto no último momento. Com o lobo, quando há confronto, é já frequente acabar com a morte do Cão de Gado se este não usar “carrancas” (coleira de bicos). Todos os anos são mortos pelos lobos aproximadamente uma dezena de Cães de Gado.
 
Como todos estes rebanhos, os cães vivem numa área bastante humanizada, em que é frequente o encontro com pessoas. A frequência destes encontros é de tal maneira elevada que seria impossível para qualquer pastor possuir cães que fossem agressivos a ponto de morder alguém. Certamente, por esta razão, terá havido, ao longo dos tempos, uma selecção em que os cães que demonstrassem agressividade para as pessoas, a ponto de morder, tivessem sido progressivamente eliminados. Ainda hoje, quando um cão tem tendência a ser agressivo para com as pessoas, o pastor procura desfazer-se dele. Estes encontros entre Cães de Gado e pessoas embora não sejam de todo agradáveis, principalmente pelo tamanho dos cães, não vão além de uns latidos de aviso. Assim, parece ser plausível que tenha sido o meio onde se inserem que terá levado a que estes cães se imponham aos estranhos mais pela sua presença imponente, e não tanto pela agressividade, e que, depois de ultrapassada a barreira imposta pelo seu temperamento reservado, se tornem dóceis e bastante meigos.
O mesmo já não se passa em relação a outros cães. Em geral, quando um Cão de Gado Transmontano encontra outro cão procura, em primeiro lugar, impor-se apenas com a sua presença. Os passos seguintes dependem essencialmente da reacção do interlocutor. Um cão que se submete, que demonstre medo ou apenas se mantenha firme, sem reagir com agressividade, é quase imediatamente ignorado. Porém, um cão que reage com agressividade, tentando impor-se, ou que morda, é rapidamente atacado, acabando, por vezes, por ser morto. Este é um dos motivos porque muitos cães apresentam ferimentos causados por chumbo, uma vez que ao perseguirem os cães de caça, os caçadores frequentemente têm a reacção irracional de dispararem sobre os Cães de Gado. Aliás, a maior causa de mortalidade desta raça, no seu solar, é de origem humana. Para além da já referida, as outras causas de morte mais frequentes são o atropelamento e a morte por asfixia, ou hemorragia, quando os cães caem em laços de aço colocados ilegalmente para caçar javalis.
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