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O pastoreio tradicional de ovinos e caprinos no Nordeste de Trás-os-Montes tem a designação de pastoreio de percurso porque, contrariamente ao que acontece nas regiões onde os rebanhos são levados para um pasto para aí ficarem todo o dia, nesta região, os rebanhos são conduzidos pelo pastor de pasto em pasto desde que saem da curriça (i.e. estábulo) até serem novamente encerrados. Os rebanhos são sempre acompanhados por dois, ou mais, cães de gado, que os protegem de ataques de lobo e, mais recentemente, por um ou dois cães de virar, que ajudam o pastor a conduzir o rebanho, ou a evitar que este saia dos pastos que lhe são destinados, evitando que entrem nos campos cultivados em redor.
Este tipo de pastoreio é efectuado diariamente pelo rebanho e a distância percorrida depende, em grande medida, da quantidade de alimento disponível, assim como da época do ano.
 
 
No Inverno, o início do pastoreio está directamente ligado à ocorrência de geadas. Enquanto o pasto estiver coberto por uma fina camada de gelo, o rebanho não sai para o campo. Nesta época, o rebanho tem uma saída tardia, cerca das nove ou dez horas da manhã. Inicialmente, o rebanho de ovelhas ou, como aqui se diz, o gado, é levado para o mato a fim de ser "forrado", isto é, para que as ovelhas comam mato, quer seja de urze, quer de giesta ou esteva, de forma a evitar problemas digestivos. Só depois de forrar o rebanho é que o pastor o conduz para outro tipo de pastos, mais ricos em erva. Já próximo do meio do dia, é comum observar-se os rebanhos em pastos mais abertos – lameiros, restolhos ou pousios, bem como noutros pastos com mais alimento – para que as ovelhas não se movimentem tanto, dando ao pastor a possibilidade de comer a sua merenda. Da parte da tarde, o rebanho vai seguindo de pasto em pasto, até à hora de regressar à curriça. O pasto utilizado varia consoante as disponibilidades. Pode ser um sobreiral, no caso de haver bolota, um campo de centeio, se este foi semeado para servir de pasto ou se o centeio para produção de palha e grão estiver forte e, em último caso, há sempre o mato, que, embora sendo um pasto relativamente pobre, tem a vantagem de ser abundante.
Na Primavera e no Outono, o ritmo é semelhante ao do Inverno, com a diferença de que as saídas do rebanho se verificam cada vez mais cedo à medida que corre a Primavera, ou são mais tardias, quando o Outono avança no calendário. O tipo e a qualidade dos pastos também variam um pouco. Na Primavera, recorre-se com alguma frequência aos restolhos que se enchem de erva e, por vezes, a zonas ardidas, onde o mato desponta com tenros rebentos. No Outono, são procuradas as zonas ricas em bolota, quer sejam de azinheira, quer de carvalho-negral ou de sobreiro.
 
Esta rotina é interrompida com o aproximar do Verão. O calor que se faz sentir nessa época do ano impede que os rebanhos pastem durante grande parte do dia. Desta forma, o pastoreio dos gados é repartido por dois períodos. O primeiro tem início entre as quatro e as cinco horas da manhã, e termina por volta das nove ou dez horas. O segundo período inicia-se por volta das oito horas da noite e termina entre a meia-noite e as duas da manhã. Nesta época, o gado quase nunca é encerrado na curriça, pernoitando entre a meia-noite e as cinco da manhã, no campo, ao ar livre, encerrado em cancelas. Os cães, e frequentemente também o pastor, pernoitam junto do gado.
 
Durante o dia, e após o primeiro período de pastoreio, dá-se de beber ao gado, deixando-o depois numa zona com sombra, que pode ser um souto de castanheiros, um bosquete fechado de carvalhos, ou um lameiro com freixos. Aproveitando esta pausa, o pastor regressa a casa para descansar, ficando os cães nas imediações do rebanho, procurando, eles também, refúgio em zonas frescas – uma linha de água, uma sebe ou mesmo uma horta. É habitual escavarem buracos para se estenderem na terra fresca, ou mesmo deitarem-se durante alguns segundos numa charca para refrescarem. Nesta época, além do mato, dos lameiros e dos restolhos que ficam depois das segadas (ceifas), é usual proceder-se à desrama de árvores, por exemplo, freixos para alimentar as ovelhas, sendo hoje em dia relativamente comum semear milho e sorgo, que também servem de pasto nesta altura do ano.
 
 
A raça de ovelhas mais comum na zona coincidente com o solar do Cão de Gado Transmontano é a Churra Galega Bragançana. É uma ovelha de elevada estatura, em que a altura do tórax e dos membros lhe confere um aspecto característico de pernalteira (com pernas altas). Em tempos, foi explorada para a produção de lã, carne e fertilização do solo. Nessa época, era vulgar observar rebanhos constituídos, na sua quase totalidade, por animais de cor preta, cuja lã era, devido à sua cor, muito procurada para a confecção do pardo ou burel. A dimensão dos rebanhos era, então, menor do que actualmente, existindo, porém, um número superior de rebanhos por aldeia. O pastor era sempre o proprietário do rebanho e, muitas vezes, não possuía área agrícola própria, utilizando os pastos do povo e os pousios. Os ataques de lobos também eram mais frequentes, porque a área agrícola era maior e, também, porque o javali e o corço eram muito raros, sendo o veado inexistente. Desta forma, para sobreviver, o lobo via-se obrigado a atacar os rebanhos, quase diariamente. Por esse motivo, nessa época, a quantidade de cães de gado também era superior à que existe nos nossos dias.
 
Todavia, se é certo que, actualmente, o efectivo de rebanhos é menor, a quantidade de animais por rebanho aumentou, variando geralmente o seu número entre 150 a 250 cabeças, por rebanho. O pastor continua a ser, na grande maioria dos casos, o proprietário do rebanho, mas tem agora a possibilidade de utilizar áreas anteriormente utilizadas na agricultura, próprias ou arrendadas, o que lhe permite melhorar o tipo de pastos utilizados pelo rebanho e, assim, aumentar a produtividade deste tipo de exploração. O abandono agrícola que esteve na base destas melhorias, veio criar, igualmente, condições para a existência de mais áreas naturais e, consequentemente, a expansão das presas naturais do lobo, como o javali e o corço, por toda a região. Esta circunstância, contribuiu, decisivamente, para uma diminuição de ataques aos rebanhos que, se estiverem protegidos por bons Cães de Gado Transmontano, raramente resultam na morte de ovelhas.
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